Por Ariana Gilberto
Desde 2003 temos aprovada a Lei nº 10.639, que teve como objetivo incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura Afro – Brasileira”. Trata-se de uma lei inovadora, mas que precisa ser tirada do papel para que de fato a escola seja um agente de transformação na busca de equidade racial que sustentará os conceitos de igualdade e justiça, pois atualmente a escola, por muitas vezes tem sido um espaço no qual o racismo está presente e muitas vezes sendo continuado, se esta não for uma preocupação legítima da instituição.
Pensando em como trabalhar a temática com a comunidade escolar, penso na literatura “O pequeno Príncipe Preto” de Rodrigo França. Através da história, que acontece em um pequeno planeta habitado pelo Pequeno Príncipe Preto e sua enorme árvore de Baobá, é possível aprender a história do povo preto e a importância de valorizamos a sua história e de onde vieram com a esperança de que cultivem mais a empatia.
Ao narrar a história do Pequeno Príncipe Preto é possível analisar, com os alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, a importância de conhecer a história de pessoas que foram escravizadas através do conceito de sabedoria e ancestralidade colocado pelo autor que “ antes dessa árvore, existiu outra árvores, antes existiu outra árvore, e mais outra e outra...” assim como que antes de mim vieram os meus pais, os meus avós, e antes os bisavós para ilustrar o conceito de ancestralidade que está relacionado ao como se constrói a identidade de um povo e consequentemente de uma pessoa e que essa identidade do povo preto com a sua origem foi interrompida com o processo de escravização.
Ressaltar também as características da raça negra, tais como a boca grande e carnuda, o formato do nariz, o cabelo que não tem nada de ruim que quando cresce possui o céu como limite. E de uma forma muito leve apresenta a religiosidade africana ao explicar que um raio se forma do encontro de espada de Iansã e Xangô quando chove.
E ao iniciar a sua viagem por outros planetas, após uma rajada de vendo, com o seu grande baobá, ao passar pelo Planeta Terra, planeta que se tem mais água do que terra, buscou pessoas para se fazer amizade, porém não encontrou ninguém, mas deixou neste planeta plantado uma semente de baobá, que ao crescer e virar muda seria o suficiente para o rei entender o que é UBUNTU.
E será que nesta linda releitura de Rodrigo França há o encontro com a raposa?
O que eu posso te dizer é que o Pequeno Principe Preto tem o grande objetivo de afetar o outro através do afeto. A história do povo preto do processo de escravização, dos quase 400 anos de escravidão, processo que fomos submetidos, e me atrevo a escrever na primeira pessoa, ao processo de “liberdade” em uma terra na qual não foi cedido espaço para continuar com dignidade e sempre abaixo de leis que nos subestimavam quanto povo, pode ser de muita dor, resiliência, resistência e de ressignificar, porém quando se encontra empatia poderá ser de muito afeto, mas para isso se faz necessário a prática do UBUNTU, do eu SOU, por que nós SOMOS, de dar as mãos e irmos juntos e juntas em uma jornada do conhecimento para a equidade e isso o Pequeno Príncipe Preto tem muito a ensinar.
Artigo escrito e enviado por Ariana Gilberto
Conheça o Livro: “O Pequeno Príncipe Preto", de Rodrigo França
Imagem: Julio Ricardo, Divulgação.
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